quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ao ímpeto da esperança

Caro leitor, como tive retornos positivos de várias pessoas sobre artigos anteriores nos quais publiquei discursos que proferi em formaturas de alunos, ofereço a vocês uma versão sintética de meu último pronunciamento como paraninfo da turma de graduação em curso de Administração da PUC Minas em Betim, acontecido no dia 23 de janeiro de 2009. Espero que o texto lhes seja inspirador.
Queridos formandos, queridos novos administradores, nos reunimos aqui para reafirmar os compromissos que vocês e nós, professores e funcionários da PUC Minas em Betim, estabelecemos, mesmo sem termos clareza disso, quando vocês começaram o curso de Administração.

Em um momento da história humana em que afirmar compromissos parece dar lugar ao relativismo, fazendo versejar uma ética de conveniência e adaptabilidade a tudo e a todos, ter compromissos assume a aura de coisa antiga, ultrapassada, formalista e muito distante da efetiva realidade da vida. (...)

Nos tempos atuais, é muito comum pensarmos, ou mesmo partirmos da crença não confessada, que o compromisso consigo mesmo nada tem a ver com compromissos mais amplos, sejam com a sociedade, sejam com a própria humanidade. Ledo engano. Esses compromissos são sempre de todos e seu nome é esperança.

Há sempre uma esperança que se renova. E vocês, caros formandos, mesmo não se dando conta disso, exercem o papel aqui agora de renovar os sonhos de todos aqui presentes por uma vida mais plena. A magia das colações de grau reside justamente nesse resgate de nós mesmos, servindo para paralisarmos o cada vez mais atribulado e asfixiante cotidiano e voltarmos nosso olhar para o essencial do viver: o encontro de cada um consigo mesmo. (...)

A nós, professores e funcionários, cabe aceitarmos o papel, que parece ser glorioso, mas é sempre envolto em cortantes espinhos, de permitirmos que vocês sonhem e construam esperanças cada vez maiores e melhores. Nesse momento em que somos homenageados, nós professores e funcionários devemos também vestir o véu da humildade e, sem hipocrisia, nos desculparmos por nós e pelos nossos colegas que, vez ou outra, ou mesmo sempre, deixaram de cumprir seu papel essencial: o de difusores da esperança.

Esse papel, como disse antes, não é fácil de ser cumprido, pois cabe, sobretudo a nós professores, sabermos não só a hora de falarmos, tomarmos a palavra e nos expormos aos holofotes, mas sobretudo a hora de nos calarmos, cedermos a palavra, abrirmos o coração e a mente à escuta e deixarmos que outros, jovens que chegam à vida profissional, ocupem nosso espaço. (...)

Muitos pensarão que os compromissos aqui reforçados e depositados são uma série de regras tolas e anacrônicas, a serem deixadas de lado no transcurso da vida e do exercício profissional. Realmente, viver a vida a partir de regras que limitem a liberdade humana, inclusive as possibilidades de errar e praticar atos indesejáveis, é ceder ao lugar confortável do moralismo e da repetição, negando a própria essência do humano.

Mas, vocês, caros novos administradores, carregam a missão de jogar novo oxigênio no mundo, de deixar o lugar confortável do viver e ousar construir mais. Vocês podem estar pensando como vão assumir essa tarefa, visto que nem mesmo muitos de vocês acreditam que isso é possível. Pois digo a todos que quando comecei a minha caminhada eu também não acreditava que isso era possível e nem sabia aonde chegaria. Mas sempre alguém, ao longo da minha caminhada de vida, me faz lembrar, mesmo sem querer, do meu compromisso com a esperança.

O que pergunto a vocês é se, depois de uma longa caminhada de vida, terão ainda a esperança e a liberdade em seus corações. Confiem que sim, pois hoje, vocês renovam em nossos espíritos a esperança que move a todos os homens e mulheres. (...) A esperança tem uma pitada mágica, que fortalece a confiança e inspira para a caminhada. Nós, professores, acreditamos e depositamos nossas esperanças em vocês. Seus parentes, amigos e colegas de trabalho também depositam e depositaram, mesmo sem ter consciência disso, suas esperanças em vocês. Portanto, para a esperança se materializar, basta que alguém acredite, mesmo que o próprio protagonista da esperança não acredite nela. (...)

De nada vale o caminho da humanidade neste pequeno e insignificante planeta chamado Terra, se os próprios seres humanos não forem capazes de se reinventarem, mais e mais, de forma melhor. Vocês, caros formandos, têm essa tarefa. Mas tal incumbência não pode pesar nos ombros, pois esse é primeiro sinal de que não se está no caminho certo. Quando vocês vacilarem, se lembrem daqueles que em algum momento da vida de vocês permitiram que a esperança se renovasse em seus corações. Lembrem-se que nós professores, mesmo ficando, como todos, cada vez mais velhos e cansados da caminhada, retomamos o fôlego a partir de jovens como vocês, que todo semestre não nos deixam esquecer o compromisso que firmamos com nossa profissão e que é também a nossa sina de vida: o de aprender e ensinar sempre.

Muitos vão pensar que a esperança que compõe o enredo da vida humana se materializa em conquistas de dinheiro, poder e qualidade material de vida. Mas essas conquistas são simples co-adjuvantes na história vital, pois os protagonistas são outros. São o coração e a mente sempre altivas, sempre renovadas e inspiradas pela esperança, que circunda a todos os seres viventes. Por isso, não desejarei a vocês muitas conquistas, avanços profissionais e realizações, pois isso a vida pode ou não reservar a vocês e cabe a vocês mesmos escreverem esse destino.

Desejarei sim, que vocês saibam encontrar a si mesmos pelos caminhos da vida e saibam sobretudo, sem enxergar com os olhos e sem lembrar com a memória e a razão, carregar a esperança que se mostra tão evidente entre todos nós, nos olhares emocionados, no coração apertado e nas lágrimas neste momento.

A esperança, costurada pouco a pouco pelas amizades que vocês foram tecendo ao longo desses anos de PUC Minas, é também uma conquista importante de todos aqui presentes. Mesmo que os caminhos da vida levem bons amigos, que até este momento conviviam intensamente, a se distanciarem, o que vale é o que se viveu. Isso, ninguém tirará de vocês, nunca.

Encerro a minha fala com os votos de que vocês, quando derem o último suspiro vital, possam olhar para si mesmos cheios de esperança e terem o espírito reconfortado pela bela caminhada que construíram nesta vida, como alunos e agora como administradores, mas sobretudo como seres humanos que não fugiram à eterna aventura de viver. Vivam a vida, com tudo o que ela reserva a vocês!

Publicação original: TEODÓSIO, A. S. S. . Ao Espírito da Juventude. Circuito Notícias, Brumadinho, p. 3 - 3, 01 set. 2008.

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