domingo, 13 de outubro de 2013

Além da Profissionalização

Desde que se difundiu no Brasil a noção de Terceiro Setor, faz mais ou menos vinte anos, um dos esforços sistematicamente desenvolvidos foi o de promover a profissionalização de seus quadros. Por isso, para muitos, fala-se na “invenção” do Terceiro Setor. Ele teria sido inventado, ou reinventado, se preferirem, sob a aura de que as antes organizações filantrópicas agora comporiam o rol das organizações do Terceiro Setor, tendo como principal transformação o aprimoramento técnico e gerencial de seus membros.
            Empresas que investem em projetos de responsabilidade social, governos, organismos internacionais e grandes ONGs implementaram dezenas de cursos de formação nas mais diversas áreas, mas sobretudo treinamentos voltados à gestão organizacional das instituições do Terceiro Setor. A ideia subjacente seria a de que tendo boa gestão, tudo mais se resolveria. Pressuposto questionável e até irracional, essa ideia força configurou um verdadeiro fetiche sobre a gestão e suas possibilidades. Vultosos recursos, energias e esforços foram voltados para a profissionalização, entendendo-a como aprimoramento gerencial.
            A questão que vem a baila atualmente, depois de realizada a profissionalização de grande parcela das organizações do Terceiro Setor no Brasil e de operado seu ajuste organizacional, com a otimização de estruturas internas, quadros funcionais e mecanismos de gestão, é que só a profissionalização não basta. Muitas dessas organizações seguiram o fetiche da boa gestão e se esqueceram da formação política para exercício da defesa de direitos e para o diálogo independente com o Estado e as empresas, ora colaborando, ora denunciando, ora propondo melhores políticas e ações.
            Não se trata de mero achismo deste que vos escreve, trata-se de constatações de recentes estudos baseados na FASFIL, uma espécie de censo do Terceiro Setor no Brasil, de análises do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas e de pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas.
            Nestes tempos de ruas inflamadas pelos cidadãos, não só prefeitos e a classe política precisam dar respostas a esse novo universo político em ebulição. Você, caro dirigente, funcionário e voluntário de organizações do Terceiro Setor também precisa fazê-lo. E isso não se dará com as competências gerenciais desenvolvidas. Resta a reinvenção política do Terceiro Setor.

Artigo originalmente publicado: Teodósio, A. S. S. Além da Profissionalização. Hoje em Dia, 26 de junho de 2013, p. 23.

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