Desde
que se difundiu no Brasil a noção de Terceiro Setor, faz mais ou menos vinte
anos, um dos esforços sistematicamente desenvolvidos foi o de promover a
profissionalização de seus quadros. Por isso, para muitos, fala-se na
“invenção” do Terceiro Setor. Ele teria sido inventado, ou reinventado, se
preferirem, sob a aura de que as antes organizações filantrópicas agora comporiam
o rol das organizações do Terceiro Setor, tendo como principal transformação o
aprimoramento técnico e gerencial de seus membros.
Empresas que investem em projetos de
responsabilidade social, governos, organismos internacionais e grandes ONGs
implementaram dezenas de cursos de formação nas mais diversas áreas, mas
sobretudo treinamentos voltados à gestão organizacional das instituições do
Terceiro Setor. A ideia subjacente seria a de que tendo boa gestão, tudo mais
se resolveria. Pressuposto questionável e até irracional, essa ideia força configurou
um verdadeiro fetiche sobre a gestão e suas possibilidades. Vultosos recursos,
energias e esforços foram voltados para a profissionalização, entendendo-a como
aprimoramento gerencial.
A questão que vem a baila
atualmente, depois de realizada a profissionalização de grande parcela das
organizações do Terceiro Setor no Brasil e de operado seu ajuste
organizacional, com a otimização de estruturas internas, quadros funcionais e
mecanismos de gestão, é que só a profissionalização não basta. Muitas dessas
organizações seguiram o fetiche da boa gestão e se esqueceram da formação
política para exercício da defesa de direitos e para o diálogo independente com
o Estado e as empresas, ora colaborando, ora denunciando, ora propondo melhores
políticas e ações.
Não se trata de mero achismo deste
que vos escreve, trata-se de constatações de recentes estudos baseados na
FASFIL, uma espécie de censo do Terceiro Setor no Brasil, de análises do Grupo
de Institutos, Fundações e Empresas e de pesquisas realizadas pelo Centro de
Estudos em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas.
Nestes tempos de ruas inflamadas
pelos cidadãos, não só prefeitos e a classe política precisam dar respostas a
esse novo universo político em ebulição. Você, caro dirigente, funcionário e
voluntário de organizações do Terceiro Setor também precisa fazê-lo. E isso não
se dará com as competências gerenciais desenvolvidas. Resta a reinvenção
política do Terceiro Setor.Artigo originalmente publicado: Teodósio, A. S. S. Além da Profissionalização. Hoje em Dia, 26 de junho de 2013, p. 23.
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